segunda-feira, 26 de maio de 2014

Itaboraí inaugura Residência Terapêutica para pacientes com transtornos mentais


Com o objetivo de humanizar o atendimento aos portadores de transtornos mentais de Itaboraí, atendidos há décadas no Hospital Colônia de Rio Bonito, por se encontrarem em situação de abandono ou sem vínculo familiar, a prefeitura inaugurou o primeiro Serviço de Residência Terapêutica do município. O evento também celebrou o Dia de Luta Antimanicomial.

“As pessoas que vão trabalhar aqui estão diante de um grande desafio. Terão que cuidar de pessoas que foram esquecidas, abandonadas pela sua própria família e também pela sociedade. Essa é a hora de fazer a diferença na vida destes pacientes que vão morar aqui. Vamos trazê-los de volta para o nosso convívio, já que por tantos anos eles foram excluídos do mundo. Vamos trabalhar para o bem-estar destas pessoas e
oferecer um serviço de saúde de qualidade e mais humano, item que considero essencial e fundamental para quem trabalha nesta área”, discursou o prefeito Helil Cardozo, ao lado dos vereadores Bil (PDT) e Irmão Caio (PSC).

A residência terapêutica implantada foi do tipo I, destinada para portadores de transtornos mentais vindos de internações psiquiátricas de longa permanência. São duas casas mobiliadas, construídas no mesmo espaço físico. Cada uma tem dois quartos, sala, cozinha e banheiro. Na área externa, o imóvel possui ainda piscina, churrasqueira, lavanderia, varanda e jardim. A residência conta com uma equipe de oito cuidadores, trabalhando 24 horas por dia, para atender os 12 usuários do serviço nos afazeres domésticos.

O secretário municipal de Saúde, Edilson Francisco dos Santos, lembrou o cenário encontrado no programa de Saúde Mental quando assumiu a pasta, em janeiro de 2013.

“Quando chegamos aqui, encontramos um caos instalado. Todos os médicos psiquiatras pediram exoneração, a estrutura estava totalmente fragmentada, os funcionários desmotivados, um abandono total. Aos poucos, fomos reconstruindo o setor e melhorando o atendimento aos pacientes”, contou Edilson. “A inauguração deste serviço é mais uma vitória da Saúde Mental no município. Estamos resgatando, reinserindo e motivando estes pacientes a terem uma nova vida. A partir de agora, eles terão uma casa para dormir e não mais um leito hospitalar. Terão cuidadores e não mais médicos e enfermeiros para ajudá-los na higiene e na alimentação. Esta é uma dívida social que temos com estas pessoas que foram excluídas da nossa sociedade e do nosso município. Não podemos encará-los como inimigos, mas sim como semelhantes”, frisou.

De acordo com a coordenadora do Programa Municipal de Saúde Mental, Andrezza Figueiredo, haverá uma fase de orientação e adaptação para amenizar o impacto da mudança de vida destes novos moradores.

“A retirada desses pacientes do Hospital Colônia, que estão de alta médica há anos, é uma etapa do processo de desinstitucionalização. Por isso, a implantação dessas unidades é um avanço importante para a consolidação de Itaboraí como referência na saúde mental. O portador de transtorno mental não deve ficar preso. Ele pode conviver com a sociedade. É nossa função fazer o acolhimento e dar a ele todo o suporte, deixando a internação para último caso e buscando oferecer modelos alternativos. É importante frisar que estas pessoas já estão livres para conviverem na sociedade. Daremos apenas suporte na ressocialização”, disse Andrezza.

Durante o dia, os moradores terão acompanhamento clínico realizado pelo Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Adulto Pedra Bonita, que vai oferecer atividades diárias de ressocialização, refeições e oficinas terapêuticas.

Atendimento Especializado

O programa de Saúde Mental atualmente conta com 100 funcionários entre médicos psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e técnicos de  enfermagem, que realizam as ações de promoção de saúde e a reinserção social do paciente.

É formada por unidades de serviços especializados para tratamento dos pacientes com sofrimento de transtornos mentais severos e moderados.
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) Pedra Bonita e João Caetano atendem os públicos adulto e infantil, respectivamente. Têm a missão de acompanhar pacientes que obtiveram alta de casas de internação, além de atender a demanda espontânea. Os usuários, após avaliações, são classificados em intensivos, semi-intensivos e não-intensivos. Em todos os casos, há também a visita domiciliar.

Há ainda o Ambulatório Especializado em Saúde Mental Idolino Ferreira Pacheco, que realiza atendimento clínico em ações individuais e a pessoas em sofrimento psíquico por uso do crack, álcool e outras drogas. Também oferece a emergência psiquiátrica junto ao Hospital Municipal Desembargador Leal Junior, que é referência para atenção as pessoas com necessidade de atendimento emergencial. Mais informações no telefone 2635-3071.

Saiba Mais

Nos séculos passados, quando ainda não havia controle de saúde mental, a loucura era uma questão privada no qual as famílias eram responsáveis por seus membros portadores de transtorno mental. Os loucos eram livres para circulação nos campos, mas eram alvo de chacotas, zombarias e escárnio público.

Com o passar dos anos, começou a discussão e luta pela implantação de serviços de saúde mental no Brasil. Foi então que surgiram as primeiras instituições, no ano de 1841 na cidade do Rio de Janeiro, que era um abrigo provisório, logo após surgirem outras instituições como hospícios e casas de saúde. Somente no final do século XX é que a militância por serviços humanizados conseguiu às primeiras implantações de Centros de Atenção Psicossocial, os CAPS.

Em 2001 a Lei Paulo Delgado foi sancionada no país, dispondo sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais e privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária.

As condições da saúde mental no Brasil evoluíram, porém a Luta Antimanicomial não parou. Ainda acontecem manifestações em todo o país no dia 18 de maio, para que se mantenha vivo o cuidado com os doentes, e para que fique claro que eles não devem ser excluídos da sociedade e maltratados como eram antigamente, mas sim orientados e acompanhados para que possam encontrar seu lugar no mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Curta a página do Viva Itaboraí no Facebook http://www.facebook.com/VivaItaborai

Postagens populares