quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Itaboraí recebe embaixador da ONU



O embaixador para a Hanseníase na Organização das Nações Unidas (ONU) e presidente da Nippon Foundation, Yohei Sassakawa, os secretários estadual e municipal de Saúde, Sérgio Côrtes, César Alonso (Itaboraí) e Maria Juraci de Andrade Dutra (Rio Bonito), e a coordenadora do programa nacional de Controle da Hanseníase, Magda Cevantezi, participaram de encontro no Hospital Estadual Tavares de Macedo, em Venda das Pedras, para integrar a luta brasileira pela indenização dos filhos de pacientes com hanseníase.
O evento contou ainda com a presença de caravanas do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, além da participação da artista Elke Maravilha, voluntária do movimento da erradicação da doença.

Em sua segunda visita ao hospital, Sassakawa assistiu a espetáculos de percussão e dança africana e japonesa, com os grupos Movimento Central Cultura Urbana e Rio Nikkei Taiko.
Também ouviu relatos emocionantes e dramáticos de filhos de ex-pacientes, já adultos, sobre rejeição, traumas, preconceito e sofrimentos vividos durantes os anos de separação da família.

O embaixador reafirmou o seu empenho de continuar a lutar pela erradicação da doença no mundo, partilhando a sua experiência. “Nós continuaremos a trabalhar para que os índices da hanseníase diminuam cada vez mais e as ações de combate à endemia sirvam de modelo na batalha contra outras doenças que ainda assolam o país”, disse.

O encontro reuniu os filhos que foram afastados de seus pais como consequência de uma política de saúde errada que causou danos irreparáveis.
O Brasil e o Japão são os únicos países no mundo a indenizar os pacientes isolados compulsoriamente por hanseníase. Em 2007, ao sancionar a lei federal 11.520, que concede pensão especial às pessoas atingidas pela doença, o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, chegou a definir o isolamento compulsório como um “holocausto sanitário”.
Com o apoio do embaixador, o Brasil poderá ser o primeiro país a estender a pensão aos filhos de pacientes com hanseníase.

“Por mais que se recorra a uma indenização, essas pessoas tiveram direitos fundamentais violados e isso ninguém pode apagar”, afirmou a diretora do Hospital Estadual Tavares de Macedo, Ana Claudia Krivochein. “O apoio de Sasakawa tem valor simbólico e político, sendo estratégico para garantir os direitos humanos das pessoas atingidas pela hanseníase”, destacou o coordenador nacional do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), Artur Custódio Moreira de Souza.

A líder comunitária do Complexo da Reta, Sandra Ribeiro, 50 anos, foi uma das vítimas da separação compulsória feita pelo Estado. “Nasci dentro da Colônia Tavares de Macedo. Assim que a parteira me tirou da barriga da minha mãe, me embrulhou num lençol e encaminhou direto para o Educandário de Vista Alegre, como também fez com meus três irmãos. A minha mãe, que não tinha a doença, mas era casada com meu pai, portador da hanseníase, morava com ele na colônia. Quando ele faleceu, minha mãe conseguiu comprar uma casa e me tirou, aos cinco anos, do orfanato. Só, então, começamos a viver juntos, como uma família”, contou.

Sassakawa também visitou o município de Rio Bonito, para conhecer a campanha de prevenção e diagnóstico da hanseníase promovida pela Carretinha da Saúde. Após a visita ao Rio de Janeiro, o embaixador seguiu para Brasília, onde reforçou, junto à Presidência da República e ao Ministério da Saúde, o pedido de indenização às pessoas atingidas pela hanseníase.

Separação - A lei que obrigava o isolamento dos pacientes com hanseníase foi instituída, em 1920, pelo presidente Getúlio Vargas e vigorou até 1986, quando uma portaria do Ministério da Saúde revogou o direito da polícia sanitária de levar os doentes à força para um dos 33 hospitais-colônia espalhados por todo o país. As tais instituições eram verdadeiras cidades. Contavam com cinemas, escolas, delegacias e até cemitérios próprios. As edificações eram fortificações com muros e portões intransponíveis, com direito à presença de um guarda sanitário. Era ele que saía à procura de fugitivos. E, já que a vida deveria correr entre os muros das colônias, muitos doentes ali se casaram e tiveram filhos.
As crianças nascidas nesses locais eram imediatamente retiradas contra a vontade de seus pais e levadas para educandários, impedindo as famílias dos pacientes de criá-las. Essa política de exclusão durou até a década de 70. A partir de então, iniciou-se a implantação do tratamento feito nos postos de saúde. Mas grande parte dos doentes não tinha mais para onde ir. Separados da família, do trabalho, durante anos, muitos se viram como crianças desprotegidas em meio a estranhos. Vários foram rejeitados, outros não se adaptaram à vida de liberdade. Até hoje, ex-doentes, desses hospitais, mesmo sem a obrigação de permanecer, continuam morando nessas unidades por não terem para onde ir.

Saiba mais - Uma das doenças mais antigas de que se tem registro na história mundial, a hanseníase já foi erradicada em praticamente todo o mundo, exceto na Índia, Angola, Moçambique e Brasil. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), apesar do esforço brasileiro para alcançar metas globais, o país é o único que ainda não atingiu o padrão de eliminação da hanseníase com menos de um doente para cada 10 mil habitantes. Segundo o Ministério da Saúde, o número de casos caiu 31,5% entre 2000 e 2010 e atualmente é de 1,56 para cada 10 mil pessoas.

Atualmente, o tratamento da hanseníase é ambulatorial, via medicamentos, e em Itaboraí é feito através dos postos de saúde da família espalhados pelo município e pelo programa municipal de Controle da Hanseníase. Mais informações no telefone 3639-1852.

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