terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Uma questão de (des)educação


(Extraído de "Toda Mafalda", Quino)

E se a Mafalda conhecesse a malfadada educação brasileira, quem a conteria?...


Não tenho a inquietação política da Mafalda, muito menos do filho mais novo, porém, lendo algumas manchetes e notas publicadas no jornal A Gazeta dos últimos dias acabei juntando as peças...



Conversando com minha mãe, que é professora desde os 15 anos e ainda trabalha com educação, discutíamos sobre a dificuldade que a maioria das pessoas têm de falar e escrever o Português, corretamente. Independente do nível de escolaridade, resvalam na hora de usar a língua materna: uns, com maior frequência e gravidade que outros, mas, todos pecam(os).



Não tenho a intenção de me aprofundar ou chegar a conclusões simplistas, mas há 2 principais responsáveis pelo desenvolvimento do vocabulário da criança: 

1°-Fluência e influência dos pais e familiares mais próximos( nível de escolaridade, cultura e estímulo à leitura);

2°-Escola.

É nesse segundo ponto que eu gostaria de tocar, superficialmente, tocada pelas últimas manchetes do jornal.

A Gazeta(ES) do dia 19 traz a seguinte matéria:

"Indignadas. Iná Xavier e Marlúcia Leandro têm a mesma reclamação: os filhos não conseguem entender o que eles mesmos escrevem"

A matéria pode ser lida na íntegra, aqui, mas trata de uma das consequências do descaso com a alfabetização e ensino fundamental nas escolas públicas: a proliferação dos "analfabetos funcionais".



 "A aprovação automática até o 3º ano - sugerida pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) e seguida pelas secretarias municipais - parece ter virado sinônimo de falta de acompanhamento do desenvolvimento dos alunos, em algumas unidades."
"...Muitas mães, porém, reclamam do acompanhamento e afirmam que as crianças estão sendo aprovadas para as séries seguintes sem, sequer, saberem ler e escrever."

Não vou nem questionar a "lei da aprovação automática", pois não cabe a mim parecer técnico.
Mas, não há motivo para preocupação: nossas crianças serão salvas da ignorância com a construção de mais escolas...


(Placa oficial, fotografada em Linhares-ES e publicada no jornal "A Gazeta" do dia 19/02)

Esperando que tais "centros de educação infântil" não sejam centros de proliferação do "Seu Creysson"...

Isso é apenas para dar uma pequena mostra de como anda a base da nossa educação.

Mas, isso também não é motivo para preocupação!

"Não contavam com a astúcia" dos burocratas do Governo! 
Se a criança não tiver direito a ensino fundamental eficiente, se escrever, e não souber decifrar o que ela mesma escreveu, se ler, e não souber traduzir o que ela mesma acabou de ler, não há nada que não se remedie com muita "maquiagem"!
Nesse ponto, não concordo com o sistema de cotas!
Mas o Governo acha que assim vai resolver o problema da desigualdade social, criando um outro tipo:

  
(Matéria publicada no jornal, ontem)

"O levantamento do perfil dos aprovados no VestUfes 2010 para Medicina, feito pela Secretaria de Inclusão Social e obtido com exclusividade por A GAZETA, mostra ainda que 16,6% dos aprovados não cotistas tiveram que fazer no mínimo quatro vestibulares até entrar na Ufes - índice que cai para 6,25% entre os cotistas."



O resultado não me surpreendeu. Embora seja uma pesquisa local, com algumas adaptações regionais poderia ser aplicada a qualquer universidade federal do país: está cada vez mais difícil passar no vestibular, um sistema que, por si só já é injusto!

Acompanhei esse processo bem de perto, na própria família: minha irmã mais nova, só depois de tentar vestibular para Medicina por 4 anos seguidos conseguiu ser aprovada num vestibular fora de época, disputando uma sobra de vagas(concorrência 140:1), abertas, justo por quê?: 
Seis alunos que entraram na Universidade pelo sistema de cotas, decobriu-se mais tarde terem burlado os critérios da seleção.
Não fosse pelo atual sistema de cotas e ela teria conseguido passar antes. Mas o que lhe atrasou a conquista foi o que lhe proporcionou a chance de nova tentativa.

Vejam o que disse o secretário de inclusão social da Ufes*, Antônio Carlos Moraes:


"Em geral, quando o candidato pobre é reprovado no primeiro vestibular, a tendência é a entrada precoce no mercado de trabalho e a desistência. O rico continua tentando até dar certo. Nesse sentido as cotas cumprem sua função social', diz."

(*UFES-Universidade Federal do Espírito Santo)
Leia a matéria na íntegra, aqui na Gazeta.


Não tenho a intenção de levantar polêmica, nem discutir a "lei das cotas", mas a declaração do secretário foi infeliz, no mínimo, tendenciosa. 

Que o estudante do ensino público, ou de classe social mais baixa está em desvantagem, disso já tratamos no início do post. Não há o que discutir!
Injusto é dizer que, todo aluno proveniente de escola particular é "rico", portanto, merece sofrer espera e angústia maior para entrar na Universidade.
Minha mãe é educadora e funcionária pública: Foi assim, com todas as dificuldades e limitações econômicas que educou 3 filhos em escola particular. Mas, classificá-la como "rica" é risível!

Mas, isso também não é problema!

Ainda sobre o jornal de ontem, minha mãe leu-me uma notinha destacando que o ex-presidente Lula  aproveitava a atual folga, "deliciando-se" com a leitura de um livro.
( Só num país como o nosso, para ser necessário publicar num jornal que um ex-presidente lê alguma coisa! Bem...antes tarde do que nunca!)

Quando presidente, Lula admitiu não ter intimidade com livros. 
Em outra ocasião, muito comentada, até bateu no peito, orgulhando-se de sua mãe ter "nascido analfabeta". Leia-se, nas entrelinhas:

"Atenção, crianças! Não se preocupem em estudar! Quem sabe ao crescerem, se souberem fazer política como eu ( ou o Tiririca, ou o Romário, ou o Franklyn Aguiar...) poderão se tornar 'presidentes da República'?!"


Enquanto isso, no país do mínimo-mínimo... 
"O salário, ó!"

Abrindo um parêntese:
Falando em deseducação, filho do meio ontem viajou de ônibus para outro município, onde estuda. 
À noite, quando me ligou, contou sobre a aventura da tarde: Sentara atrás de uma criança, acompanhada da mãe. 
A certa altura da viagem, a criança simplesmente abriu a janela do ônibus em movimento e deu uma bela cusparada; os perdigotos, e outras coisas mais foram parar, sabem onde...
Perguntei-lhe o que fez, se avisara à mãe da criança deseducada sobre o ocorrido( e será, que ela não viu?!...). 
Respondeu-me que "não"; ficara chateado, mas não queria criar encrenca.
Pelo visto esse filho( o meu) é educado(mas a mulher com a criança, não).
Chamei-lhe a atenção pela inação. 
Precisamos falar, mesmo que a verdade incomode outros. É ação educativa!

Fecha parêntese.

 
Hoje fuji ao assunto, sei; mas, como já expliquei outras vezes por aqui: é "ao gosto do freguês", no caso, meu gosto.




Conteúdo gentilmente cedido pela Laély uma médica capixaba que escreve no Sala da La, dá uma passadinha lá pra conferir, tem muita coisa inteligente rolando por lá!

Um comentário:

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